quarta-feira, 13 de julho de 2022

metodologia motta

 


Luiz Gonzaga Motta, em Análise Crítica da Narrativa (2013), é o principal introdutor das ideias de Ricoeur no estudo das narrativas mediadas. Por que estudamos narrativas? Para nos conhecermos; para aprender sobre o mundo; para distinguir entre o que é benéfico do que não é; e para “melhor recontá-las”. E nós acrescentaríamos: elas são uma forma de investigação e uma forma de localização no tempo/espaço. Motta apresenta uma proposta metodológica, que consiste em um esquema de a) três planos, b) a definição de três níveis de narração, em que operam c) sete movimentos analíticos. O Plano da expressão (linguagem) corresponde à Descrição; o Plano da história (ou conteúdo) equivale à Análise; e o Plano da metanarrativa (tema de fundo) é a Interpretação.

PLANO DE EXPRESSÃO

PLANO DE CONTEÚDO

PLANO METANARRATIVO

Signo

Significado

Significante

Dentro destes três planos, o analista pode operar os sete movimentos: a intriga, o paradigma, os episódios, o conflito dramático, os personagens, as estratégias argumentativas e a metanarrativa.

O primeiro procedimento analítico é definir a intriga, o plot, da narrativa como um todo. Há um resumo técnico no plano da expressão; um storyline no plano de conteúdo; e uma interpretação de conjunto no plano metanarrativo.

O segundo e o terceiro procedimentos são a decomposição desta intriga principal em diferentes arcos narrativos. Em séries de ficção existem arcos narrativos de temporada decompostas em episódios regulares. Nas análises de narrativas jornalísticas, essas unidades não são uniformes. Aqui também cada procedimento pode ser realizado em cada um dos três planos.

O quarto procedimento consiste em estabelecer os diferentes tipos de conflito da narrativa, os conflitos no plano da expressão, no plano de conteúdo e no plano metanarrativo.

Os personagens podem ser vistos como agentes de funções (Propp), como actantes (Greimas) e de vários outros modos . O importante é descrevê-los nos diferentes planos físico, mental e moral.

Desta descrição, certamente emergirão estratégias argumentativas explícitas e implícitas aos personagens internos da narrativa, mas também entre o destinador e o destinatário externos.

O ´setimo procedimento corresponde a interpretação dessas estratégias.

MOVIMENTO

PROCEDIMENTO ANALÍTICO

1º Movimento: compreender a intriga como síntese do heterogêneo

STORYLINE

Resumo-síntese

2º Movimento: compreender a lógica do paradigma narrativo

Decomposição dramática da narrativa em temporadas

3º Movimento: deixar surgirem novos episódios

Decomposição dramática da narrativa em episódios

4º Movimento: permitir ao conflito dramático se revelar

Identificar conflitos psicológicos e sociais no conflito dramático

5º Movimento: personagem: Metamorfose de pessoa a persona

Funções, actante e outros

6º Movimento: as estratégias argumentativas

Produção de efeitos reais

Produção de efeitos estéticos

7º Movimento: permitir às metanarrativas aflorar

Interpretação

Há ainda nessa metodologia a prescrição de observar três diferentes níveis de narração.

Um exemplo: A protagonista escreve uma carta para seus amigos da ex-escola em que estudava, dizendo que está se adaptando, fazendo novos amigos, etc. O texto é narrado pelo audio da personagem. No entanto, a imagem mostra a personagem sofrendo discriminações e bulling na nova escola. Então, o narrador personagem diz que está tudo bem. O narrador mediador diz que está tudo mal. E o narrador autor diz que a protagonista está mentindo. Essa mesma lógica das narrativas ficcionais pode ser aplicada às narrativas jornalísticas e comunicacionais.

NARRADOR-AUTOR

NARRADOR-MEDIADOR

NARRADOR PERSONAGEM

O primeiro se refere ao autor na tradição literária e é posto por Motta como uma narração institucional do meio de comunicação, é a linha editorial do veículo, em que são definidos os limites e as prioridades. Também pode ser chamado de enquadramento.

O segundo narrador é o mediador entre o veículo e o público, é o narrador-imaginador das narrativa ficcionais e corresponde aos editores e jornalistas, aos produtores do texto.

E, finalmente, o narrador-personagem são as fontes, os entrevistados, os agentes responsáveis pelas informações primárias.

Produção

Direção

Interação

O público só vê os narradores-personagens, mas quem seleciona e prioriza os temas é a instituição narradora e quem imagina os temas como narrativas são os editores/redatores. Os personagens são organizados e qualificados dentro das narrações anteriores. Hoje, no entanto, em virtude da presentificação das narrativas audiovisuais, os narradores-personagens estão ganhando autonomia em relação aos outros níveis de narração.

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