terça-feira, 26 de julho de 2022

The Sinner


A psicologia e a religião na construção da primeira temporada 


 Ágata Menezes 


Uma pessoa comum, acima de qualquer suspeita, comete um assassinato e passa a ser investigada por um detetive de polícia. Esta é a premissa de The Sinner, uma série de suspense e drama policial criada por Derek Simonds para o canal americano USA Networks e Netflix. Com um título que significa "O pecador" e uma abertura que traz referências às pranchas de Rorschach, isto é, aquele teste das manchas de tinta utilizado para examinar as características da personalidade e do emocional do paciente, a série tem como metanarrativas questões ligadas à religiosidade e à psicologia. 

A primeira temporada de The Sinner é uma adaptação do livro homônimo da escritora alemã Petra Hammesfahr e tem como tema a personagem de Cora Tanetti (Jessica Biel). A anti-heroína da vez assassina um estranho na praia após ouvir uma música que a faz ter um surto de raiva. Esse e outros signos que mexem com o seu inconsciente passam a servir como pistas para o detetive Harry Ambrose (Bill Pullman) que acompanha o caso. A construção da protagonista se dá então por meio do desenvolvimento do seu psicológico. 

Cora tem uma personalidade (ego) frágil, fruto de suas relações familiares: de um lado uma mãe católica e conservadora que usa a moral religiosa para atuar sobre a filha como um superego extremamente repressivo, a culpando pela doença de Phoebe, sua filha caçula. Já esta, por sua vez, surpreende por agir sobre Cora como a primeira das estruturas da psiquê, isto é, o id, que representa os impulsos pelo prazer. Phoebe é o diabinho acima dos ombros de Cora que se aproveita da culpa que a irmã mais velha sente para ter os seus desejos atendidos. Mas, o que leva Cora a cometer um assassinato? Bem, isso traz outra questão psicológica, um estresse pós-traumático que a faz ocultar algumas memórias, e, para resgatá-las a personagem passa por sessões de hipnose. 

Sem mais spoilers, a primeira temporada trabalha muito bem as suas metanarrativas, construindo um suspense sólido sem deixar pontas soltas na história de Cora. Uma pena que o mesmo não aconteça com o detetive Harry Ambrose, o personagem tem tudo para ser tão complexo quanto a primeira, mas sua história não se desenvolve, nem mesmo nas outras temporadas em que é o único a estar presente. Isto porque The Sinner é uma antologia que em cada uma das suas 4 temporadas traz uma história diferente. Mesmo assim, é o tipo de série que vale a pena maratonar, para acompanhar o desenvolvimento dos personagens temas e o que os leva a cometer seus crimes. 


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