segunda-feira, 18 de julho de 2022

consentimento

 

Anatomia de um escândalo

Oscar Cowley

A minissérie de seis episódios apresenta uma narrativa ficcional sobre um escândalo protagonizado por um poderoso político próximo ao Primeiro Ministro da Inglaterra. Baseada no livro homônimo de Sarah Vaughan, cujo nome real é Sarah Hall, a trama é um suspense psicológico e dramático que envolve a elite britânica conservadora em meio a um jogo de aparências e privilégios. Para escrever a história, Sarah se inspirou em sua rotina como jornalista do The Guardian onde costumava acompanhar escândalos da política, motivo pelo qual a minissérie apresenta um tom bem realista, parecendo se tirada dos jornais da vida diária.

Nela são apresentadas perspectivas de câmera que buscam passar uma compreensão mais intensa das emoções dos personagens. O recurso é muito bem utilizado, uma vez que a gente consegue entender tudo que se passa na mente dos envolvidos sem necessariamente precisar existir um diálogo entre eles. Além disso, são realizados flashbacks e construções dos pensamentos dos personagens em forma de imagens que auxiliam na compreensão das visões de cada um dos envolvidos.

Na história, James Whitehouse (o acusado) se vê envolvido numa acusação de estupro por uma colega de trabalho com a que vinha tendo um caso extraconjugal. Após ó vazamento da acusação de estupro na mídia, James admite o adultério mas não aceita as acusações de estupro, dando início a um controverso julgamento que o coloca na mira de todos, até da sua esposa (Sophie Whitehouse), que até o momento acreditava em sua versão. A promotora Kate Woodcroft decide pegar o caso indo contra os seus próprios princípios que consistiam em permanecer longe de casos high profile e faz de tudo, legal e ilegalmente, para conseguir uma condenação contra o acusado.

Dirigida por S.J. Clarkson, a minissérie traz uma reflexão importante sobre questões urgentes em nossa sociedade relacionadas a masculinidade, machismo, assédio, privilégios políticos e, principalmente, consentimento em uma relação sexual. Durante os episódios, a gente consegue ter uma ideia mais real de como os homens brancos e ricos, quando fazem algo errado, são tratados como apenas meninos, eximindo-os das consequências dos seus atos. Isso faz com que sintam que podem realizar qualquer atrocidade, pois sempre serão resguardados pela sociedade que os privilegia.

Chama a atenção a forma como os dois casos de estupro acontecem na minissérie, pois levantam uma questão muito importante quando ao consentimento sexual, chegando a ser algo quase didático na história. Apesar de no início do ato aparentemente ocorrer um consentimento, em ambos os casos há um momento em que as mulheres afirmam não querer seguir essa relação naquele instante e lugar. Isso não afeta James Whitehouse que, sustentado pela sensação de impunidade e seu próprio egocentrismo, que é possibilitado pela sua posição social, o faz continuar com a relação de forma forçada certamente cego à possibilidade de que a sua vítima não o quisesse ter mais.

O resultado do julgamento na minissérie é muito importante, pois retrata perfeitamente o que costuma ocorrer fora das telinhas – basta lembrar do caso de Mariana Ferrer, no Brasil. Naquele momento o público já tem conhecimento da sua culpabilidade nos dois casos e veem como ele é inocentado, causando a indignação de todos que estão assistindo. A reflexão é real, pois o consentimento sexual precisa ser debatido para que esse tipo de agressão não ocorra mais e Anatomia de Um Escândalo é um ótimo exemplo disso.


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