Jair Libanio de Araújo Filho
Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça e as diversas histórias retratadas durante o filme de Walter Salles - Central do Brasil, um filme de gênero apelidado carinhosamente de Nordestern, traduz de maneira contemporânea um movimento que pertenceu ao período da ditadura militar no Brasil. Central do Brasil é um marco para o cinema brasileiro, não porque ele foi indicado ao Oscar, mas pelo simples fato dele misturar e chacoalhar todas as nuances das fases do cinema novo - a busca pelo sertão seco interiorano se distingue da transformação úmida dos personagens Dora e Josué.
As influências vanguardistas e glauberianas em Central do Brasil retrata um ovo modelo de fazer cinema conceituado na reinvenção do que é ser Brasil, nessa busca sobre o ser urbano e o ser sertão é de certa forma plural em diversos aspectos narrativos. Fernanda Montenegro e o talentoso Vinicius de Oliveira interpretam dois personagens que possuem exatamente essa vista grossa sobre a realidade alegórica brasileira do ser urbano e o ser sertão da busca por algo - que de certa forma, metafísica - onde o urbano se correlaciona com o ser sertão e a jornada interior.
Tecnicamente, Salles traz essa reinvenção sobre a estética da fome traduzida em um polimento híbrido apelidada de Cosmética da fome, em que transforma a violência comentada na primeira fase do cinema novo em uma brutalidade suave e razoavelmente confortante - de certa forma, uma polidez que não esvazia, de fato, o contraste social brasileiro.
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