domingo, 27 de novembro de 2022

o fim e o começo

O Fim da Viagem, o Começo de Tudo de Kiyoshi Kurosawa

Tiago Saza de Mendonça

O fim da Viagem, o Começo de tudo (to the ends of the earth) é um filme sobre estranheza ao estrangeiro, sobre interpretar um papel feliz estando infeliz e sobre o medo de estar sozinho em um lugar desconhecido. Yoko (Atsuko Maeda) é uma apresentadora independente de documentários típicos japoneses, ela força uma simpatia que nem ela mesmo acredita enquanto a câmera está em sua face. Yoko e sua equipe (que não se dão exatamente bem) estão no uzbequistão para mostrar um pouco da cultura e sociedade do local.

Algo místico carrega nos olhos de Yoko, uma melancolia tocante e sublime. Yoko transparece fragilidade e emoções sutis (diferente da Yoko apresentadora). A metalinguagem feita com primazia pela Atsuko Maeda é assustadora, nunca senti tanto desconforto em ver a Yoko carregando esse personagem de apresentadora alegre de documentários de tv típicos japoneses.

Como dito, existe algo nos olhos de Yoko que ainda não sei decifrar, uma desesperança, alguma dor, talvez sim. Mas há uma certeza no olhar dos estrangeiros por parte de Yoko: desdenho e estranheza.

Esse não é um filme típico do Kyoshi (renomeado diretor de filmes de terror japoneses), mas há um terror, um terror natural, da estranheza, do choque cultural, do medo da vida, medo da morte, da solidão. Esse filme carrega medos banais na sua maior dose, nas mãos de Yoko.

O sentimento corrói em Yoko na maior sobrecarga, se encontrar em qualquer resquício de sentimento parece a coisa certa para Yoko. O medo dos alheios é grande, mas é um medo que não gera ao sentir a vontade de cantar, esse medo existiria em sua terra Natal.

Longe de casa, interpretando alguém que não é, com pessoas que não gosta, a solidão, uma cabra, uma montanha e cantoria a flor da pele parece justo aos condenados a tamanha dor.

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