quarta-feira, 30 de novembro de 2022

marte um

 Raquel Costa

Dirigido por Gabriel Martins, Marte Um tem um rico enredo que flerta primordialmente com momentos e gestos cotidiano, narrando seus dramas, sonhos e frustrações de uma família de classe média baixa de uma cidade mineira, após a decepcionante posse de um presidente extremista de extrema-direita. Cotidiano esse que lembra a realidade de muitos de nós, seja nas discussões familiares ou simples situações como dormir no ônibus após um dia cansativo, por exemplo, que fazem um diálogo com o espectador o tempo inteiro.

Com a direção fotográfica de Leonardo Feliciano, a valorização das cores e texturas do que é visto em tela faz a diferença para a imersão de quem assiste. A direção de Gabriel proporciona observações genuínas - graças à sua experiência e vivência como roteirista - Marins faz muito com o pouco orçamento e mostra que sabe conduzir uma trama com maestria e sensibilidade. Entrega enquadramentos belíssimos, bom ritmo e uma trilha sonora que conversa com a narrativa. Não tem nada fora do lugar.

Sendo produzido graças a um fundo de investimento para diretores negros, o longa brasileiro superou vários preconceitos e desconfiança do exibidor nacional, atingindo mais de 50 mil espectadores nas salas de cinema e sendo indicado a concorrer no Oscar. Um filme que traz protagonismo de um núcleo familiar composto por pessoas negras e de classe média baixa, que conversa com grande parte da população buscando conexões entre as várias gerações e possibilidades de encontro entre as mesmas. Levando ao espectador algo único, que não se vê nos filmes internacionais ao qual dominam grande parte das salas brasileiras de cinema, que é a auto-identificação e reconhecimento da sua singularidade, de um cotidiano que é tão nosso, tão cultural, cheio das particularidades nacionais. Marte um é um filme de emocionar qualquer um, com final leve e cheio de significados e ambições saudáveis, trazendo a esperança de dias melhores.

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