sábado, 26 de novembro de 2022

THE HAUNTING OF HILL HOUSE

UMA DAS MAIORES SÉRIES DE TERROR DA ATUALIDADE

Emely Luize dos Santos Brito

Lançado em outubro de 2018 na plataforma de streaming Netflix, o seriado The Haunting of Hill House não demorou a se tornar um sucesso. Criada, escrita e dirigida por Mike Flanagan, conhecido por suas obras cinematográficas de terror, e inspirada na obra de Shirley Jackson, a série contém a dose certa de suspense e drama familiar, deixando sua trama excruciante e ao mesmo tempo bastante sensível.

Contando a história da família Crain, que se muda para uma casa mal-assombrada, a obra se desenrola entre o passado e o presente, nos mostrando como as decisões tomadas pelo casal e seus cinco filhos enquanto habitavam a residência Hill acabaram influenciando todo o seu futuro.

Curiosamente, Flanagan esperava transformar a adaptação em um filme quando iniciou o projeto, e não em um seriado, mas, ao planejar o roteiro, ele percebeu que cada membro da família merecia mais do que poucas horas de tela, transformando assim sua história em algo mais denso e significativo. Seus dez episódios têm em sua maioria o objetivo de focar em cada personagem individualmente, analisando seus diferentes pontos de vista e suas formas de entender o que se passa ao seu redor. Suas ações acabam por ter reações na narrativa dos outros personagens, e é somente com o passar dos episódios que conseguimos entender a dimensão que elas possuem.

Um exemplo disso é o que acontece no episódio de número seis, intitulado Two Storms, que se desenrola entre duas narrativas paralelas. Enquanto a família enfrenta uma noite tempestuosa durante um funeral no presente, a mesma família, décadas atrás, precisa lidar com um apagão causado por uma tempestade que parece afetar somente a residência Hill. Esse episódio se tornou uma das grandes estrelas da série, pois foi usado nele uma técnica de filmagem bastante complicada.

Embora a opção de apresentar cortes seja muito mais viável para a televisão, já que facilita na edição e possibilita a correção de erros sem precisar da regravação do material, Flanagan escolheu fazer diferente ao imaginar todo o episódio sendo filmado em planos sequência demorados, e o fato das cenas se passarem em dois lugares diferentes não pareceu um grande desafio para a equipe: os dois cenários usados — o local onde estava acontecendo o funeral no presente e a residência Hill — foram construídos juntos, interligados, apenas para que esse episódio funcionasse.

Com apenas uma câmera na maior parte da filmagem, Two Storms foi gravado em apenas cinco longos planos sequência, tendo o maior deles o tempo de dezessete minutos. O episódio demorou cerca de um mês para estar pronto para as gravações, milimétricamente coreografado para que os atores e a equipe soubessem o momento certo de entrarem em cena e se locomoverem pelo cenário. Cada som e efeito de luz foi calculado para que tudo se encaixasse de forma harmoniosa no fim.

E não é só nas técnicas de filmagem que a série se destaca. The Haunting of Hill House possui uma fotografia merecedora de atenção, já que usa paralelos muito frequentemente para contar sua história. O encaixe perfeito da câmera é necessário, feito de forma precisa para que consigamos entender quando certas cenas se interligam.

The Haunting of Hill House é a prova que dá pra se fazer terror de boa qualidade. A série não só assusta, mas também emociona e choca quem a assiste de um jeito tão surreal e incomum nas obras de horror genéricas de Hollywood. O diretor sabia o que estava fazendo ao acrescentar cada detalhe no roteiro, na produção e até mesmo no cenário, que também surpreende com suas várias mensagens escondidas, desde fantasmas capazes de serem vistos nos cantos de cenas triviais até mesmo estátuas que se movem com uma troca simples de foco.

Quebrando regras do audiovisual e apostando em uma nova maneira de contar boas histórias de terror, The Haunting of Hill House ainda é uma série que merece ser discutida e analisada. E que as pessoas permaneçam encontrando nela tantas outras belezas e complexidades, que talvez continuem tão bem escondidas quanto os fantasmas em suas cenas.


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