quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Drive My Car

 Maria Luiza de Carvalho Ramos Tavares

O vencedor do Oscar 2022 de melhor filme internacional, "Drive My Car", dirigido por Ryusuke Hamaguchi, é uma verdadeira obra de arte. Adaptado do conto do famoso autor Haruki Murakami, na trama acompanhamos o Yusuke Kafuku, que após perder a sua esposa de maneira abrupta, precisa lidar com os sentimentos de luto, solidão e arrependimento. Quando começa a trabalhar como diretor de uma peça, Kafuku é obrigado a parar de dirigir o seu amado carro e precisa aceitar uma motorista particular, é aí que seu processo de aceitação e, até mesmo, de autoconhecimento começa.

Apesar do conto ser pequeno, "Drive My Car" possui 3 horas de duração e m prólogo de 45 minutos, mas engana-se quem acredita que o filme é muito longo, cada segundo vale a pena e é indispensável para a trama. Com uma fotografia belíssima e diálogos emocionantes, o filme vai guiando o telespectador para entender a jornada de cada personagem.

É bastante interessante como a comunicação é abordada no filme. Kafuku tinha um relacionamento aparentemente bom com a sua esposa Otto. Nos momentos íntimos, Otto se sentia tão confortável que se libertava completamente e começava a narrar histórias – inclusive, essa parte do longa é inspirado no conto "Sherazade", também do Haruki Murakami – que eram repassadas para ela no dia seguinte por Kafuku. Quando descobre que Otto está o traindo, Kafuku recua e guarda para si toda aquela mágoa. Não consegue entender porque sua esposa está o traindo, mas não tem coragem de confrontá-la, ele não consegue se comunicar.

Quando Kafuku precisa de um motorista, ele recua e fica distante, pois não quer e não consegue se comunicar. Mas aos poucos, a relação entre Kafuku e Misaki, a motorista, vai crescendo, e os dois conseguem se conectar até conhecer a si mesmos, a relação dos dois se torna uma jornada de autoconhecimento.

O filme também conta com a peça "Tio Vânia" de Anton Chekhov, que se mistura com a trama e com os personagens. O surpreendente é como a peça foi apresentada: cada ator fala uma língua diferente, um deles, inclusive, fala a língua coreana de sinais. Kafuku sendo o diretor dessa peça significa muito, pois mostra como o personagem tem barreiras na hora de se comunicar, assim como os atores que falam línguas diferentes, mas no final encontram uma maneira de falar o que precisam.

É importante destacar que o carro também é um personagem no filme. Ele está presente nas duas partes do longa, quando Otto estava viva e após a sua morte. Dirigir aquele carro é muito importante para Kafuku, é uma atividade que ele sempre gostou. O carro se faz presente tanto no conto quanto no filme.

Hamaguchi, com delicadeza e precisão, conseguiu apresentar em "Drive My Car" o luto e a individualidade de cada personagem, fazendo com que o telespectador reflita e se identifique. A fotografia e os diálogos deixam o filme mais leve, e faz com que as 3 horas pareçam apenas 3 minutos. Mas, apesar disso, é importante reconhecer que o filme não é para qualquer público, uma vez que tem um ritmo lento e é mais artístico do que comercial.

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