Afinal, os clichês de triângulos amorosos ainda fazem sucesso?
Maria Eduarda Meira de Araujo
A resposta é simples: sim, e talvez sempre façam. Há algo atemporal em ver um coração dividido entre dois amores, especialmente quando esse dilema se desenrola à beira-mar, embalado por cores ensolaradas e músicas que falam diretamente à alma adolescente. A terceira temporada de “O Verão que Mudou Minha Vida", da Prime Video, sabe disso e não tem vergonha alguma de abraçar o óbvio. Pelo contrário, se diverte com ele.
Os últimos capítulos da jornada de Belly (Lola Tung) chegam como uma tempestade de verão: previsível e de deixar marcas. Todos que assistiram as duas primeiras temporadas já imaginavam o desfecho da história, mas isso não tornou menos emocionante acompanhar cada momento desse verão. A série se transformou em um fenômeno cultural, saindo da tela para ocupar transmissões em bares dignas de Copa do Mundo, timelines efervescidas e até torcidas organizadas, que brincaram com a disputa entre Team Conrad (Chris Briney) e Team Jeremiah (Gavin Casalegno). Assistir em conjunto, comentando cada reviravolta nas redes ou em conversas de bar, foi quase tão importante quanto a trama em si, talvez até mais.
Tecnicamente, a produção entrega o que se espera: fotografia luminosa, estética polida, trilha sonora certeira, recheada de Taylor Swift e outros sucessos pop, um dos grandes trunfos da série que conduz as emoções dos personagens de maneira perfeita. Mas também tropeça em alguns diálogos cansativos e atuações que, às vezes, exageram no drama, lembrando ao público que estamos diante de um romance juvenil que nunca quis ser mais do que isso.
E é justamente aí que reside sua força: Jenny Han, criadora da obra, entende o clichê e o abraça como quem sabe que um beijo na chuva sempre funcionará. Não há pretensão de profundidade, apenas a promessa de entregar risos, suspiros e aquele aperto no peito que faz parte do pacote da nostalgia romântica.
Mas nem tudo foi como uma brisa fresca. Para muitos fãs, a grande decepção foi a escassez de cenas entre Belly e Conrad, casal que deveria sustentar o coração da narrativa. O relacionamento central foi deixado em segundo plano, resultando em um final apressado, como se onze episódios tivessem sido comprimidos em uma única hora. Ainda que esse caminho siga fielmente os livros que inspiraram a série, na tela a sensação é de que a história não respirou o suficiente para que a despedida tivesse o impacto esperado.
E quando falamos de romance adolescente, triângulos amorosos e drama, não dá para ignorar um fenômeno que conversa diretamente com essa estética: os doramas. Muito do fascínio que “O Verão que Mudou Minha Vida” provoca também é encontrado em produções sul-coreanas que exploram emoções intensas, amores impossíveis e conflitos juvenis embalados por fotografia delicada e trilhas marcantes.
E, claro, a lógica do triângulo amoroso está longe de ser exclusividade de Belly, Conrad e Jeremiah. A cultura pop coleciona histórias que sobreviveram justamente por essa fórmula, como os clássicos de clichê teen: “Crepúsculo” e “The Vampire Diaries".
No fim, “O Verão que Mudou Minha Vida” não reinventou o gênero e nem precisava. A série soube rir de si mesma, provocar lágrimas fáceis e manter vivo o velho feitiço dostriângulos amorosos. Foi previsível, sim, mas também foi cúmplice das nossas emoções, como aquelas músicas que sempre voltamos a ouvir, mesmo sabendo de cor a letra.
Porque, no fim das contas, o sucesso não está em surpreender, mas em nos fazer sentir tudo outra vez.

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