Tick, tick... BOOM!

 

 Giselle Torres

Tick, tick... BOOM! (2021), dirigido por Lin-Manuel Miranda e adaptado da peça autobiográfica de Jonathan Larson, é um filme que ressoa profundamente com qualquer pessoa que já sentiu a ansiedade e o medo de correr atrás dos seus verdadeiros sonhos. 

A obra fala sobre a vida de Jonathan Larson (interpretado por Andrew Garfield), um compositor de teatro musical que se aproxima dos 30 anos, que seria "idade-limite" que ele estabelece para o sucesso artístico. É uma homenagem póstuma e pulsante ao gênio de Larson, que viria a criar Rent, a sua peça de sucesso, mas morreria tragicamente na véspera de sua estreia. A narrativa equilibra a ansiedade febril da criação com as tensões de sua vida pessoal, incluindo o relacionamento com a namorada Susan (interpretada por Alexandra Shipp) e a preocupação com os seus amigos que lutam contra a dura realidade da epidemia de AIDs da época. O filme é, fundamentalmente, sobre essa a contagem regressiva que ele escuta na sua cabeça, a sensação de que o tempo está se esgotando. 

Tecnicamente, o filme é uma aula de como traduzir a energia e o caos do teatro musical para a tela. A direção de Miranda é ágil, utilizando cortes rápidos e uma cinematografia que alterna entre o drama naturalista das cenas do cotidiano e o espetáculo fantasioso do palco. A estrutura narrativa, em particular, é engenhosa: o filme é enquadrado pela própria performance de Larson de tick, tick... BOOM! no palco, criando uma metanarrativa onde a vida é contada e recontada através de sua arte. Andrew Garfield entrega uma performance maravilhosa, capturando a urgência e a vulnerabilidade de Larson. Seus vocais são surpreendentemente poderosos, mas é sua atuação, repleta de tiques nervosos, ansiedade e paixão desenfreada, que sustenta o filme. Os números musicais são visualmente inventivos e funcionam como uma janela para o estado mental de Jonathan. A montagem e o design de som trabalham em conjunto para criar a sensação de que o "tic-tac" não é apenas um relógio, mas o pulsar constante da ansiedade criativa, usando o som de forma perspicaz se tratando de um musical. 

O filme !tick, tick... BOOM!! Transcende a biografia e se torna uma poderosa reflexão sobre o que significa ser um jovem de vinte e poucos anos cheio de medos e sonhos para arriscar. Ele traduz perfeitamente essa combinação de ansiedade e ambição que todo jovem artista sente queimando em seu peito. Eu não conheço a obra de Jonathan Larson, mas o filme se faz completo até para quem não o conhece, o que torna a obra uma ótima homenagem que transcende o artista homenageado pela sua bela mensagem de “não desista dos seus sonhos, por mais que pareça tarde demais”.