Lyênia Monteiro das Chagas
A Longa Marcha (2025) é a adaptação romance de Stephen King sob direção de Francis Lawrence, o mesmo responsável pelos principais filmes de Jogos Vorazes e que neste filme parece confortável revisitando o tema de jovens em situação violentas. A premissa do longa segue a estrutura do livro: em um Estados Unidos distópico, cem jovens participam de uma competição de resistência em que caminhar é questão de sobrevivência. Manter uma velocidade mínima garante a permanência; parar significa morrer, com a promessa de um desejo a ser comprido para o último de pé. Entre vários participantes memoráveis estão Ray Garraty, interpretado por David Jonsson, e McVries, vivido por Cooper Hoffman, que desenvolvem uma relação marcante ao longo do percurso. A supervisão rígida da marcha fica a cargo do Major, personagem de Mark Hamill.
O filme começa exibindo a brutalidade das regras de forma direta, mas aos poucos a câmera passa a recuar, evitar o espetáculo da dor e deslocar nossa atenção para quem continua vivo. A violência não desaparece, mas deixa de ser espetáculo para se tornar consequência. Quando o espectador passa a conhecer seus ritmos, medos e pequenos momentos de humor, a narrativa reduz a exposição das mortes e enfatiza a humanidade desses jovens. Eles deixam de ser apenas rostos desconhecidos e se tornam identidades em movimento.
A repetição do cenário não enfraquece a experiência. Mesmo atravessando diferentes regiões, tudo continua sendo a mesma estrada infinita. A escolha reforça o desgaste físico e mental imposto pela competição. O cansaço visual é parte da construção dramática: a sensação de continuidade forçada torna-se elemento narrativo.
Do ponto de vista técnico, Francis Lawrence demonstra controle sobre ritmo, tensão e linguagem visual. A direção utiliza enquadramentos longos para traduzir a exaustão, edição precisa para manter a urgência e uma paleta que destaca a deterioração progressiva da jornada. As performances de Jonsson e Hoffman sustentam a imersão emocional enquanto Hamill entrega um antagonista de presença sem exageros.
“A Longa Marcha” é um filme que usa de um conceito simples em uma experiência física e emocional. A narrativa mantém o público atento, enfatizando conexões, resistências e escolhas. A marcha continua porque precisa continuar, e essa sensação é o que move o filme do início ao fim.

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