domingo, 23 de novembro de 2025

faroeste futurista

JOSÉ HENRIQUE DIAS DE FREITAS


Dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, Bacurau (2019) evidencia a narrativa dos moradores de Bacurau, um pequeno povoado do sertão brasileiro. Eles percebem algo estranho na região: enquanto drones passeiam pelos céus, turistas chegam à cidade. Quando carros são baleados e cadáveres começam a aparecer, Teresa, Domingas, Acácio, Plínio, Lunga e outros habitantes chegam à conclusão de que estão sendo atacados.

Com um potencial blockbuster, este longa de diretores pernambucanos flerta com uma narrativa estadunidense ao mesmo tempo em que abraça regionalidade e não cede a clichês - o filme é feito para incomodar com violência e prefere hipérboles ao retratar a questão da desigualdade política e social entre estados do Brasil e também o racismo do
ponto de vista internacional.

Embora tenha sido gravado no Seridó, entre o município de Parelhas e a zona rural de Acari, esses ambientes foram reduzidos “ao nordeste de Pernambuco” ficcionalmente. Este é o único ponto negativo a ser citado, pois essa decisão acaba ocultando, à primeira vista, a visibilidade local dessas regiões. Fora isso, Kleber e Dornelles conseguiram, por meio da mis-en-scène e a harmonia de elenco, fazer um clássico futurista de faroeste. Além disso, clamo um “viva” para Sônia Braga como Domingas, em seu impecável segundo trabalho seguido com Kleber.

Apenas reflito se seria politicamente correto categorizar “Bacurau” como um filme de herói quando os “bandidos” do povoado são o último recurso a ser utilizado como forma de combate à ameaça estrangeira, mas mesmo que não seja possível rotular a obra, fica evidente a empatia que é sentida pela comunidade, esta que é tão convidativa a ponto de fazer o espectador se fazer presente e resistir pela sua existência.

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