Cecília Batalha
Tick, Tick… BOOM! não é apenas um filme musical — é um lembrete pulsante de que a arte nasce, quase sempre, daquilo que ameaça nos consumir. Lin-Manuel Miranda, em sua estreia como diretor, transforma a angústia criativa de Jonathan Larson em um espetáculo que vibra entre o palco e a vida real, como se ambos estivessem constantemente tentando afinar o mesmo piano emocional.
Andrew Garfield, em uma performance elétrica, vive Larson como um fio desencapado: sempre faiscando ideias, sonhos e inseguranças. Ele corre por Nova York como quem tenta ganhar alguns segundos contra o relógio — esse mesmo relógio que dá título à história e que soa, incessantemente, como lembrete de que os 30 anos estão chegando… e o grande musical ainda não.
O filme usa a estrutura do “musical dentro do musical” como um mapa emocional: cenas cotidianas irrompem em canções afiadas, confessionais e, às vezes, deliciosamente caóticas. A cidade, os amigos, o amor e a tragédia da epidemia de HIV compõem o pano de fundo, mas é a urgência — quase desespero — de criar algo que realmente importe que conduz cada passo, cada nota e cada lágrima.
O resultado é um retrato íntimo de um artista à beira do estouro, traduzido em ritmo, humor e um bocado de coração. Tick, Tick… BOOM! nos lembra que criar pode ser doloroso, solitário e exaustivo — mas também pode ser, paradoxalmente, o que nos mantém vivos. No fim, saímos com a sensação de que o filme é uma carta de amor aos teimosos que seguem tentando, mesmo quando o mundo parece medir tudo em prazos, boletos e expectativas. E talvez a maior explosão aqui não seja o “BOOM”, mas o momento silencioso em que percebemos: a vida não espera — então por que nós esperaríamos?

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