Filme resgata herói sem abrir mão do contemporâneo
Nicollas Aquino
“Há três séculos atrás, os primeiros seres superpoderosos conhecidos como metahumanos apareceram na Terra, inaugurando uma nova era de deuses e monstros. Três décadas atrás, um bebê extraterrestre é enviado em uma nave espacial e adotado por um casal de fazendeiros do Kansas. Três anos atrás, o bebê agora crescido se anuncia ao mundo como Superman, o metahumano mais poderoso de todos. [...] E há três minutos atrás, Superman perdeu uma batalha pela primeira vez”.
É através desse letreiro que o diretor James Gunn lança sua mais nova produção, Superman, e dá o pontapé inicial para uma nova fase da DC Comics.
Filme estrelado por David Corenswet busca resgatar a essência clássica dos quadrinhos do Azulão através de cenários coloridos, valores morais bem estabelecidos, e um toque de cafonice que apenas um herói de cueca é capaz de proporcionar. Seu enredo é relativamente simples: Superman, movido pelo seu senso de humanidade e empatia, interfere em um conflito armado entre duas nações, o que gera uma divisão na opinião pública e o coloca na mira de um bilionário ganancioso cujo único objetivo é acabar com o herói, consequentemente levando-o a uma jornada de autoconhecimento onde busca conciliar suas origens kryptonianas com sua criação humana. Apesar da simplicidade, Gunn constrói a narrativa e o universo da obra de uma maneira natural e consistente, fazendo uso dos demais personagens — como o de Lois Lane (Rachel Brosnahan), Jimmy Olsen (Skyler Gisondo), Lex Luthor (Nicholas Hoult), entre outros — para aprofundar os impasses morais de seu drama
Particularmente, acredito que um dos pontos fortes da produção é a construção de seus personagens, principalmente a divisão entre as personas de Clark Kent e Superman. Gosto da forma como a interpretação de David trouxe à tona as nuances entre as identidades do protagonista — o jornalista desengonçado e o herói destemido —, formando uma linha tênue entre homem e deus que no fim das contas se borra para revelar um indivíduo sensível e, apesar de poderoso, também é falho e está suscetível a erros. Da mesma forma, Nicholas Hoult eleva o papel de Lex Luthor a um outro patamar, interpretando um homem multifacetado — um bilionário charmoso e afável aos olhos do público, porém egoísta e impiedoso em particular, com traços levemente narcisistas e extremamente manipulativo. Sem dúvidas uma das melhores representações do personagem em tela até então.
A relação entre esses dois personagens marca a produção, cujo drama central é inteiramente motivado pela inveja quase que patológica de Lex com relação ao Superman — novamente, evidenciando os ego do personagem.
Outro ponto interessante e que vale ser mencionado é o leve subtom político da obra, e também a forma como os meios midiáticos são utilizados para manipular a opinião pública, refletindo o estado moderno da nossa sociedade e seus conflitos de forma implícita — ou explícita, depende do ponto de vista. Como jornalista em formação, achei esse detalhe essencial para consolidação da trama.
Vale ressalva, também, para Rachel Brosnahan que interpreta uma Lois Lane extremamente centrada e valente, honrando de fato o viés determinado da personagem, que vai muito além do arquétipo da donzela em perigo. O romance entre Lois e Clark Kent é desenvolvido de forma natural, porém em segundo plano — por não ser, necessariamente, o foco do filme —, o que pessoalmente prefiro, já que dá ao diretor maior liberdade para trabalhar cada papel individualmente, livrando a atriz do papel de ser apenas o “par romântico” do mocinho — o que ainda vemos acontecer com certa frequência com personagens femininas em filmes de heróis.
Com trilha sonora animada e humor único, cheio de personalidade, a adaptação é um manjar para os amantes dos quadrinhos clássicos do Superman, porém podem trazer um ar infantil ou até mesmo bobo para o público geral, principalmente levando em consideração as produções mais sérias e sombrias que a DC Studio tinha entregue até então. No entanto, como fã, posso dizer que fiquei muito satisfeito em ver a essência do herói sendo resgatada e que vejo grande potencial para futuras continuações ou, até mesmo, demais adaptações — talvez mais aparições da “Gangue da Justiça” nas outras obras do estúdio? Ou, quem sabe, a estreia da tão prometida série com os membros do Planeta Diário?
De modo geral, é um filme leve e divertido, que pode ser visto em família mas que também traz críticas mais maduras, destacando humanidade e empatia como verdadeiros atos de rebeldia nos dias atuais — o verdadeiro significado de ser punkrock.
Superman (Idem – EUA, 2025)
Direção: James Gunn;
Roteiro: James Gunn;
Elenco: David Corenswet, Rachel Brosnahan, Nicholas Hoult, Edi Gathegi, Nathan Fillion, Isabela Merced, Anthony Carrigan, Pruitt Taylor Vince, Neva Howell, Wendell Pierce, Skyler Gisondo, Beck Bennett, Mikaela Hoover, Christopher McDonald, Sara Sampaio, Terence Rosemore, Frank Grillo, María Gabriela de Faría, Milly Alcock, Sean Gunn, Grace Chan, Alan Tudyk, Michael Rooker, Pom Klementieff, Jennifer Holland, Bradley Cooper, Angela Sarafyan, Stephen Blackehart, Michael Rosenbaum, Will Reeve;
Duração: 129 min.

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