quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Frankenstein (2025)


 RAMYLLE MARIA CUNHA DE FREITAS  


A adaptação de Frankenstein por Guillermo del Toro vai além do  gótico, transformando o clássico de Mary Shelley em um drama sobre o egocentrismo do criador e a dor do abandono da criatura. Frankenstein é mais drama do que “terror”; uma obra gótica e melancólica na medida. 

A trama começa no meio do ártico; Victor Frankstein (Oscar Isaac) está fugindo de uma criatura muito forte e é encontrado pelos homens de um navio que estava preso no gelo. Ali, depois da criatura atacar o navio, Victor começa a contar toda a história. A história se estrutura em dois atos: a obsessão e arrogância do criador e a trajetória trágica da criatura, ambas contadas pelo ponto de vista de cada um. 

O início do filme mergulha na trajetória de Victor Frankstein. Conta sobre sua infância e o que lhe fez chegar onde chegou como médico e cientista. Uma infância trágica marcada pela perda da mãe e pela frieza do pai. A juventude de Victor é construída com essa frieza, solidão e uma ânsia constante em se provar o melhor para o pai (e consequentemente, para todos).  

Na sua fase adulta, já na faculdade, Victor já tenta provar para os professores que é capaz de criar um ser com vida infinita e mostra sua experiência com um tronco humano. Os professores no local apontam aquilo como uma abominação. Victor conhece então Henrich Harlander (Christoph Waltz), tio de Elizabeth (Mia Goth), noiva do seu irmão William (Felix Kammerer). Essa parte é importante, pois Henrich se interessa por essa pesquisa de Victor em criar um ser humano capaz de viver para sempre e financia toda a sua pesquisa. No meio de tudo isso, Victor se apaixona por Elizabeth.  

A parte da “construção” da criatura (Jacon Elordi), é um quebra-cabeças de horror, é gráfico (mas não tanto) e bastante macabro. A partir do nascimento da criatura, nasce também a relação emocional (complicadíssima) entre ele e Victor. No entanto, o médico se frustra bem no início com o fato da criatura não ser perfeita, e ele não aceita erros e imperfeições. Isso tudo resulta na rejeição da criatura. Em uma visita a casa do tio onde Victor criou todo o seu laboratório, Elizabeth e William conhecem a criatura; a criatura e Elizabeth de cara já demonstram sentimentos um pelo outro.  

Com a frustração de Victor sobre a criatura e o fato dele ter percebido que houve um laço sentimental entre Elizabeth e a criatura, ele resolve queimar a criatura dentro do laboratório. É uma das cenas mais fortes do filme. A criatura sobrevive e o incêndio apenas destrói o local. 

A partir disso, o foco se desloca para a vida da criatura. O filme foca na vida melancólica da criatura tentando sobreviver. Entre fugas e sofrimentos, a criatura conhece um idoso cego que o ensina tudo; como ler, o que é amizade, o que é amor. Percebe-se na solidão da criatura o quanto Frankenstein é sobre abandono, mágoa e uma tentativa constante de aprovação, e não sobre vingança. O maior terror do filme é o fato da criatura ter sido criada por puro egocentrismo de Victor e ter sido abandonada por não ser perfeito. A dor de não poder viver um romance com Elizabeth, única pessoa que verdadeiramente lhe amou, de não ter sido amado pelo seu criador e de ser rejeitado pela sociedade é a parte mais pesada do filme.  

Quanto às atuações, no geral, todas foram ótimas. Com ênfase para Mia Goth, Jacob Elordi e Oscar Isaac. A criatura feita por Elordi é uma interpretação muito emocionante e poética. A caracterização, direção de arte, fotografia e trilha sonora são impecáveis. O meu único ponto é que Mia Goth apareceu pouquíssimas vezes e é uma personagem que poderia ter sido mais explorada. Tanto a personagem de Mia Goth quanto o romance dela com a criatura. No geral, o filme é uma releitura ótima do clássico de Shelley. 

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