SABRINA PEREIRA DA SILVA
O thriller psicológico Speak No Evil (2024), dirigido por James Watkins, é um mergulho na cordialidade forçada e nas consequências de ignorar a sua própria intuição. A trama acompanha um casal britânico que, durante as férias, conhece uma família estrangeira carismática. Meses depois, os Dalton recebem um convite para passar um fim de semana na casa de campo de seus novos amigos.
O que começa como um reencontro agradável rapidamente se desfaz. A tensão escala de um desconforto social para medo, à medida que Ben e Louise se veem presos em uma teia de manipulação, coagidos a permanecer pela pressão de não serem rudes ou ingratos.
O filme se destaca pela cinematografia que faz uso das paisagens rurais para construir uma atmosfera opressiva, em contraste com o início inofensivo. Watkins trabalha a progressão do ritmo de forma habilidosa: o longa começa lento e vai aumentando a tensão à medida que o casal protagonista mergulha em situações cada vez mais desconfortáveis. O filme se diferencia de muitos suspenses em que os protagonistas tomam decisões forçadas ou absurdas. Aqui, o roteiro justifica bem suas escolhas: o retorno do casal à casa, por exemplo, acontece não por imprudência, mas por causa da crise de ansiedade da filha e da necessidade de recuperar sua pelúcia, uma situação que é compreensível e emocionalmente coerente.
Destaco aqui a atuação de James McAvoy. Sua performance como Parry é magnética e perturbadora, transmitindo tanto carisma quanto ameaça. Em contraste, o protagonista masculino é excessivamente manipulável, o que chega a frustrar em alguns momentos, especialmente porque as próprias crianças do filme demonstram mais astúcia diante do perigo.
Embora o desfecho traga um “plot twist” previsível, o impacto do filme não se perde. Watkins constrói um terror psicológico, apostando na angústia diante do desconforto social,do medo de confrontar e da incapacidade de dizer “não”, nos forçando a questionar nossas próprias interações sociais e o preço que pagamos pela cordialidade. É uma obra que surpreende positivamente, tanto pela atmosfera visual quanto pela forma como coloca em cena dilemas cotidianos levados ao extremo.

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